sábado, 19 de janeiro de 2013

A RELAÇÃO ENTRE OS ERROS DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM E A FALTA DE CONDIÇÕES ADEQUADAS DE TRABALHO



Recentemente recebi em meu e-mail uma matéria jornalística que tratava sobre esse assunto e resolvi escrever sobre essa problemática que atinge nossa profissão. Lembro-me como se fosse ontem quando, ao adentrar pela primeira vez na FUNDHACRE (atual Hospital das Clínicas de Rio Branco), como estagiário do curso de enfermagem na disciplina Fundamentos de Enfermagem, pude observar que faltavam materiais para o correto desempenho de nossas atividades como estagiário. A primeira coisa que tive que improvisar foi um biombo. Existia apenas o esqueleto do mesmo. Aprendi, então a pegar um lençol e a envolver o esqueleto do biombo para poder proteger a privacidade do paciente.

Durante minha formação aprendi diversas maneiras de improvisar material para poder tratar o paciente com o mínimo de dignidade. No entanto, estas medidas de improviso adotadas por nós profissionais de enfermagem podem levar a erros no desempenho da profissão, inclusive, desencadeando penalidades por parte do Conselho Regional de Enfermagem. Além disso, os profissionais ainda podem responder na esfera civil e criminal por danos ao cliente.

Várias profissionais de enfermagem respondem processos éticos e judiciais. Alguns deles, simplesmente por tentar atender os pacientes frente às péssimas condições de trabalho as quais são submetidos.

Pior, quando o Conselho Regional de Enfermagem tenta realizar uma intervenção ética nas unidades que estão comprometidas, suspendendo o exercício da enfermagem pelas péssimas condições de trabalhos e riscos ao paciente, vem o poder judiciário (na maior parte das vezes) e determina o retorno dos profissionais ao trabalho, alegando que o cidadão não pode ficar sem atendimento (mesmo que precário e correndo risco de morte).

No entanto, alguns juízes (e são raros), determinam ao gestor que tomem medidas saneadoras sob pena de multa diária e até mesmo responder na esfera criminal. Estes compreendem claramente o que a Constituição Federal assegura ao cidadão brasileiro.

Claro que a população não pode ficar sem atendimento, no entanto, o poder judiciário e o Ministério Público deveriam endurecer mais determinações com relação aos gestores dos serviços de saúde, obrigando-os a cumprir nossa CF/88 e a legislação vigente.

Dentre um dos fatores responsáveis pelas péssimas condições de trabalho, destaca-se o salário do profissional de enfermagem que recebe, muitas vezes, um salário mínimo para cuidar da vida humana. Daí, o referido profissional deve dobrar sua carga horária de trabalho, comparecendo ao serviço afadigado e comprometendo a qualidade da assistência prestada ao cidadão. A partir disso as pessoas criticam esse trabalhador da saúde quando o mesmo se submete à dupla ou tripla jornada de trabalho.

Tem mais, essa jornada de trabalho, que segundo especialistas, deveria ser de 30 horas semanais, na maioria esmagadora dos municípios brasileiros, é de 40 horas, comprometendo ainda mais a qualidade do serviço de enfermagem.

Bom frisar que o Governo Federal tem brecado o projeto de lei que trata da jornada de trabalho de enfermagem para 30 horas, usando os deputados federais eleitos com os votos do próprio profissional de enfermagem, o que é extremamente angustiante, pois acabamos votando naqueles que tiram nosso sangue todos os dias.

As eleições estão se aproximando e é hora de repensarmos nosso voto. Particularmente tenho votado nos deputados federais do Acre que tem demonstrado empenho na resolução das questões da enfermagem. Há muito deixei de votar em sigla partidária ou por amizade. Voto naqueles que verdadeiramente tem demonstrado compromisso com minha categoria profissional.

Além da questão política, temos que cobrar mais dos nossos gestores, diálogo sobre nossas condições de trabalho a fim de pressionarmos o poder público no intuito de melhorar a qualidade da assistência de enfermagem prestada ao cidadão.

Temos que buscar parcerias com o Ministério Público Estadual e Federal, bem como começarmos a fiscalizar o uso do recurso financeiro destinado a saúde.

Tenho certeza que, se essa não é a solução completa e definitiva, é um caminho que deve ser experimentado pelas lideranças da enfermagem.

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